COMUNIDADES RETIREIRAS DO ARAGUAIA
“Nossa identidade vai se conformando a partir do vai e vem, do movimento das águas do Araguaia. A gente tem essa relação muito próxima de se deixar fluir e influenciar pelas águas do rio Araguaia. Essas águas que vão fazer com que nos sintamos raízes nessa terra, nesse chão e nessas águas” Lidiane Taverny Sales, Território Mato Verdinho, no município de Luciara no Mato Grosso.
No noroeste de Mato Grosso, especificamente ao longo do rio Araguaia no município de Luciara, 100% constituído de Cerrado, é lugar de vida para homens, mulheres e crianças retireiras.
A vida retireira nos varjões — planície do rio Araguaia tomada pelas águas no período das cheias —, a lida com o gado e a dinâmica das águas na planície do rio vão formando a identidade retireira. Quando as águas do rio baixam, entre maio e novembro, eles deixam as casas na cidade e descem com o gado para a região de várzea. É lá que ficam os retiros, as residências da época da seca.
Além da identidade retireira estar relacionada ao movimento sazonal das cheias do rio Araguaia, o modo como lidam com o gado também faz parte desta construção identitária e representa grandes significados para as vidas das comunidades retireiras do Araguaia. Ser retireiro e retireira do Araguaia é ter seu modo de vida diretamente influenciado pelo movimento das águas, pelas cheias dos rios, por seu recuar vazante, é se organizar de acordo com seu próprio território, respeitando-o.
Retireiros: entre pasto e água
Os retireiros são comunidades tradicionais
Ameaças
Grilagem de terras públicas; a sobrepesca, o assoreamento, a dragagem do rio Araguaia para hidrovia e a construção de hidrelétricas; expansão da soja; impedimento de acesso a água; perda de terras e cercamento do território tradicional através da expropriação e da privatização e da usurpação de bens comuns, o que gera a desconstituição do modo de vida retireiro.