Raizeiras, benzedeiras, rezadeiras, parteiras

“O conhecimento tradicional não tem dono, tem herdeiros”

Raizeiras

As raizeiras, benzedeiras, rezadeiras e parteiras são, em sua maioria, mulheres, mas também homens, presentes em todo o território nacional, fundamentais – sobretudo em zonas rurais ou urbanas periféricas e entre grupos da população historicamente desassistidos pelo Estado, como os povos indígenas e as comunidades tradicionais.

A autoidentidade de quem pratica a medicina tradicional do Cerrado se diversifica conforme várias especialidades de cura diretamente ligada ao pertencimento ao bioma. Essas múltiplas identidades não são individuais, porque elas compartilham experiências comuns de cura por meio do uso da biodiversidade e de conhecimentos tradicionais que são transmitidos oralmente, passados de geração em geração, num movimento vivo e contínuo de valores, princípios, regras, cosmovisões, práticas experiência e afeto.

Elas são herdeiras de conhecimentos ancestrais que tem o Cerrado como fonte de conhecimento para os seus saberes/fazeres através de técnicas diversas que potencializam as relações com as plantas, águas, minerais e animais. Essa “tradição viva” não é reconhecida muitas vezes pela medicina oficial, mas é responsável pelo cuidado das pessoas e do território como guardiãs do Cerrado de forma sustentável. A prática intrínseca ao bem-estar comunitário está sustentada no acesso à biodiversidade, portanto, o ofício de raizeiras do Cerrado se contrapõe a sua destruição porque ele funciona como elemento unificador, distintivo e legitimador do seu ofício.

A sustentabilidade se deve ao fato de estarem sempre em contato com o bioma para coletar cada planta, atentando principalmente para a continuidade de sua reprodução e deixando frutos e sementes para a alimentação de animais silvestres; esse cuidado contribui para a conservação do ambiente, principalmente dos ambientes de nascentes d’água.

Elas conhecem folhas, cascas, cipós, luas mais propícias para os trabalhos, etc. Os tipos de remédios caseiros podem apresentar diferentes formas, como garrafadas, tinturas, xaropes, pomadas, pílulas, chás, banhos, benzimentos, cantos, ritos, dietas alimentares, massagem, aplicação de argila, conselhos,  bênçãos, atos propiciatórios para auxiliar nos partos e rezas que orientam a fé na cura.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu o “Ofício, Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais do Brasil” como Patrimônio Cultural do Brasil por serem provedoras de um cuidado holístico que beneficia toda a comunidade através de um atendimento contínuo, integral e holístico.