Povos de Terreiro: território sagrado negro
Das plantas aos ancestrais, do alimento às rezas que atravessam gerações.
Comunidades de terreiro, reconhecidas oficialmente como povos tradicionais, são guardiãs de uma herança afro-brasileira (Decreto nº 12.278/2024), cuja ancestralidade, práticas, religiosidades, idiomas e modos de vida estão associados à diáspora africana em todo o Brasil.
Essas comunidades se identificam sob diversas denominações, dentre elas podemos citar os povos de origem Bantu, Yorubá, Fon, Ashanti, Egbá entre outros. Em cada região do país se organizam a partir de valores civilizatórios e cosmovisões de matriz africana, matriz afro-brasileira e matriz afro-ameríndia, reconhecidas pelo seu patrimônio cultural, pelo acolhimento e pelos serviços comunitários.
Convém destacar a pluralidade de religiões afro-brasileiras – umbanda, candomblé, omolokô, quimbanda, babaçue, batuque, xambá – e de denominações para seus adeptos, a fim de elucidar que reduzir toda essa complexidade a uma identidade comum é praticar um reducionismo perigoso, devido à variedade de práticas, crenças e identificações; sendo assim, não podem ser compreendidas enquanto uma unidade homogênea, mas como pertencente a uma diversidade religiosa.
Possuem a compreensão de que não há vida sem natureza, relacionando-se com esta de forma íntima e sustentável. O meio natural é necessário em todas as práticas e ações das religiosidades afro-brasileiras, seja por meio das folhas e águas para os seus rituais, seja na interação com os guias e entidades.
As comunidades de terreiro como guardiãs da biodiversidade, promovem sua atuação na preservação ambiental, incentivam práticas sustentáveis, como o plantio de espécies sagradas, a recuperação de áreas degradadas e o uso consciente dos recursos naturais. “Essas iniciativas visam garantir que as futuras gerações possam herdar não apenas nossas tradições, mas também um ambiente preservado e equilibrado, assegurando a continuidade dos saberes ancestrais e a harmonia com a natureza” (Carta Compromisso do 1º Encontro Vozes Afro-Ancestrais do Cerrado, 2025.
Ameaças
Quase metade dos crimes de intolerância religiosa em 2024 atingiu religiões de matriz africana; portanto, a preservação das tradições religiosas e a implementação de políticas públicas que respeitem e assegurem os direitos dessas comunidades são passos essenciais para combater a intolerância religiosa e fortalecer a identidade afro-brasileira.