Pescadores: entre redes e anzóis

Pescadores

“Pescador artesanal comumente se compreende pessoas/famílias/comunidades que realizam a pesca em pequena escala, valendo-se de recursos acessíveis na própria comunidade. Normalmente, estão próximos aos rios, lagoas e praias, o que configura ampla variedade em suas conformações, modos de viver e pescar. O que é singular na categoria, independente da localidade ou região, é a relação com as águas como parte do cotidiano, que é pautada em um conjunto de conhecimentos específicos sobre vento, maré, cheias e vazantes, posição e movimentos dos cardumes, espécies de peixes, seus comportamentos e interrelações com outros animais e plantas. Aliado a isso está o uso de técnicas e instrumentos tradicionais para realização da pesca e da navegação, muitas vezes utilizados pela coletividade e passados de geração em geração. O que chama a atenção na categoria de pescadores artesanais é que, além de seu território físico de morada, as águas fazem parte da sua territorialidade, trazendo uma noção de território perpassado pelo movimento das águas. Essa relação, além de envolver conhecimento de uma diversidade considerável de espécies de peixes, faz com que os pescadores artesanais associem suas estratégias de pesca aos ciclos naturais, propiciando práticas de manejo e uso de recursos alinhados com o tempo da natureza” Guia de Direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais do Cerrado 2022).

O espaço fundamental para que as comunidades tradicionais pesqueiras tenham condições materiais de existência como grupo diferenciado é dentro de um território, tendo a pesca como modo de vida, consorciada ou não a outras atividades tradicionais – e, neste, a preservação dos conhecimentos tradicionais sobre as marés, os rios, os astros, os diversos pescados – “a ciência do rio”. O território pesqueiro envolve vários aspectos como as áreas de pesca e coleta; de moradia; os locais de embarque – e os trajetos com seus barcos; os locais sagrados e as áreas necessárias à reprodução física dos humanos e dos não humanos e reprodução cultural do grupo.

Os conhecimentos acerca dos modos operantes da pesca artesanal, geralmente são repassados de geração para geração, o que dá a esta atividade um caráter transgeracional no que diz respeito à perpetuação da pesca como tradição e dessa forma, acabam inserindo estas características no contexto cultural regional

As comunidades pesqueiras são guardiãs dos rios do Cerrado e algumas dessas comunidades tradicionais têm uma presença tão ampla nos territórios das águas do Cerrado que as águas são parte integral de seu território como é o caso dos barranqueiros, retireiros do Araguaia ou pantaneiros que vivem numa área de ecótono, ou seja, transição ecológica com o Cerrado. Essas comunidades vivem numa luta constante de afirmação de suas identidades que estão relacionadas com os modos de vida que sustentam a sua continuidade nos rios.

Ameaças

Poluição do rio por esgoto urbano e industrial, uso de agrotóxico, desmatamento, assoreamento e barramento dos rios e águas pelos grandes projetos da mineração, represamento das águas por barragens para a geração de energia, “grilagem de águas”, diminuição dos recursos pesqueiros locais, transposição do rio São Francisco, racismo ambiental.