Povo da Morraria
Morroquianos: terra e água em harmonia
Os Morroquianos são moradores da região da Morraria que fica no entorno da Estação Ecológica da Serra das Araras, entre os vários morros, serras, bocainas, córregos (afluentes do rio Paraguai), chapadinhas e vales que fazem parte da Província Serrana, cobertos por Cerrado. A área abrange os municípios de Cáceres, Nossa Senhora do Livramento, Porto Estrela e Poconé no estado de Mato Grosso.
Os Morroquianos são agricultores familiares que buscam preservar o modo de vida da comunidade, suas diferentes temporalidades, suas múltiplas territorialidades e suas cosmologias através das celebrações religiosas, conhecimentos e dependência do ambiente onde estão estabelecidos. Eles possuem um sistema coletivo de uso da terra, reforçando a identidade comunitária e a interdependência entre seus membros. Essa relação com o território garante a permanência de práticas ancestrais que contribuem para a manutenção da biodiversidade e da cultura local.
Além dos conhecimentos dos benefícios das plantas e frutos do Cerrado, os povos camponeses da Morraria, produzem para seu auto sustento: arroz, feijão, milho, banana e mandioca. A produção de alimentos é também a forma de obter autonomia econômica regional, desenvolvendo estratégias que se adaptam ao clima do Cerrado. Alguns cultivam o algodão que é utilizado na fiação artesanal de redes de dormir; as artesãs são mulheres que têm o cuidado de utilizar corantes naturais de plantas do cerrado.
A gastronomia local consiste em doces típicos da região como o “furrundú” (rapadura de cana com mamão ralado), doce de leite, biscoitos de polvilho, bolo de fubá acompanhado com a bebida local (chá de capim cidreira). As bebidas apreciadas e servidas são o “aluá” (preparado com milho torrado) e licores de distintos sabores como: coco, amendoim e pequi.
Ameaças
A área ocupada pelos Morroquianos está sofrendo transformações ao longo dos anos, num rápido processo de modificação demográfica, política, cultural, ecológica e econômica. Pressão de fazendeiros, especulação, perseguições, ato sempre acompanhados de violência, contra os antigos moradores que não tinham o título definitivo das terras comunais das antigas sesmarias. Apesar de que em 1530 foi instituída as sesmarias, uma instituição da coroa portuguesa de concessão de terras a indivíduos, condicionada ao seu uso para produção agrícola implantada no Brasil e tendo ficado em uso como forma de distribuição de terras até 1822, aqueles Morroquianos que não foram contemplados com o título de suas terras, foram expulsos ou despejados de suas propriedades.
“Ser morroquiano é acordar de manhã e ver o sol nascendo na Serra das Araras
É ser amigo dos animais e da floresta…
Paca, tatu, anhuma e tuiuiú
Colher frutos do cerrado, mangava, pequi, marijinjum e bocaiuva.
É viver da terra e para a terra, e preservar o elo com a natureza
estabelecido pelos nossos antepassados”.
José do Carmo da Silva 2022.