Guardiões do Cerrado

Guardiões

Comunidades tradicionais - Guardiãs da biodiversidade do Cerrado

“Nós os Povos Guardiões do Cerrado, seguiremos mostrando para o poder público, a sociedade brasileira e para todo o planeta a importância da sociobiodiversidade, da cultura dos povos e comunidades tradicionais para a conservação do Cerrado. Pelo Cerrado Vivo seguimos todos os dias, em marcha e em luta!” (Carta Política do X Encontro e Feira dos Povos do Cerrado 2023).

A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais definiu Povos e Comunidades Tradicionais como “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição” (Brasil 2007).

Quanto aos Territórios Tradicionais foram caracterizados como “os espaços necessários a reprodução cultural, social e econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente ou temporária, observado, no que diz respeito aos povos indígenas e quilombolas, respectivamente, o que dispõem os arts. 231 da Constituição e 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e demais regulamentações” (idem 2007).

Os Povos e Comunidades Tradicionais no Cerrado têm se autoatribuído identidades a partir de critérios étnico-raciais (quilombolas, indígenas); devido a ligação com ecossistemas específicos (geraizeiros, veredeiros etc.); por uma atividade laboral predominante que figura como marca identitária (pescador, vazanteiro, apanhadores de flores, quebradeiras de coco-babaçu, etc.); pelo tipo de ocupação e uso do território (fundo de pastos, retireiros do Araguaia, etc.) ou, ainda, por motivos culturais (povos de terreiros, “ciganos”, etc.).

Os povos indígenas e as comunidades tradicionais possuem múltiplas relações socioculturais que permitiram moldar e serem moldados pelas paisagens que constroem a sociobiodiversidade e refletem a diversidade sócio-cultural do Cerrado. Lá estão “os povos indígenas de tronco linguístico Jê (como os Xerente, Xakriabá, Apinajé e Xavante), mas também Tupi-Guarani (como os Guarani e Kaiowá) e Arawak (como os Terena e os Kinikinau). Estão também as comunidades tradicionais, como as quebradeiras de coco-babaçu, comunidades fecho de pasto, apanhadores(as) de flores, retireiros(as) do Araguaia, pescadores(as) artesanais, gerazeiros(as), vazanteiros(as), veredeiros (as), barranqueiros, povos de terreiro, quilombolas como os Kalunga (de Goiás e Tocantins) e os Jalopeiros (do Jalapão). As raizeiras, as benzedeiras, as rezadeiras, as parteiras estão espalhadas nessas comunidades, promovendo saúde e bem-estar local.

As comunidades dependem do bioma para manutenção dos seus modos de vida e, nessa relação, ajudam a conservar e a manejar o bioma. É através da conservação do Cerrado que as comunidades mantêm aquilo que necessitam para sobreviver, sejam frutos, plantas medicinais, madeira, assim como a água. Elas utilizam a vegetação nativa conservada para extrair remédios diversos, alimentos, madeira e fibras. São produtos que fazem parte da economia dessas comunidades e, portanto, é fundamental para elas manter o Cerrado em pé”.

As percepções e práticas dos povos indígenas e as comunidades tradicionais sobre a salvaguarda do patrimônio genético e cultural, convoca-nos a solidariedade e a urgente “cerradania” que é o exercício da cidadania em defesa da conservação, preservação, restauração do Cerrado e valorização de seus guardiões e guardiãs.