Comunidades de fecho de pasto: Trabalho coletivo mantém o Cerrado vivo

“O que garante o Cerrado vivo por aqui é a forma com que preservamos a vegetação, todos juntos”, Eldo Moreira, membro da Associação Comunitária dos Pequenos Criadores do Fecho de Pasto de Clemente, do município de Correntina, Bahia.

Fecho de Pasto

As comunidades de fecho de pasto surgiram por volta de 1750 com a ocupação de sesmarias, terras que eram concedidas pela coroa portuguesa. São comunidades tradicionais localizadas no extremo Oeste da Bahia, nos municípios de Correntina, Coribe, Jaborandi, Santa Maria da Vitória e Cocos, região de extensos chapadões e abundância de águas, integradas ao denominado Espigão Mestre, grande divisor de águas onde nascem rios e riachos que alimentam as bacias hidrográficas do rio São Francisco, do Tocantins e do Parnaíba. Suas chapadas são, ainda, fundamentais áreas de recarga das águas subterrâneas do aquífero Urucuia, sendo conhecidas como “caixas d’água” do Brasil. A região é de fundamental importância ecológica nas inter-relações Cerrado-Caatinga, sendo produtora de águas para o Semiárido brasileiro.

Há muitas gerações que fazem uso comunitário da terra com a agricultura familiar orgânica e a criação de animais de pequeno porte que ficam distante da comunidade, por isso as famílias precisam se deslocar para chegar até o local da criação. Os animais são individuais e boa parte da renda das famílias vem da venda do gado bovino, criados “livres”, sem cercamento, de forma extensiva, em áreas coletivas de Fecho, nos chapadões, extensos planaltos, frequentemente maiores que 10 mil hectares.

“Fecho” significa fechamento de áreas coletivas e “Pasto” está relacionada à pastagem nativa. Nos “gerais” no Oeste da Bahia, é comprovado que só existe área preservada, nas áreas onde existem “Fechos de Pasto”; é um exemplo de cuidado com a terra para manter o Cerrado em pé, preservado e evitar o empobrecimento massivo dos camponeses da região. Essas comunidades tradicionais ocupam o solo de modo não predatório e, por isso, ajudam a manter essas vastas áreas de Cerrado, consideradas “zonas de recarga” dos lençóis freáticos.

A produção de alimentos é bem diversa - milho, feijão, arroz, banana, mandioca, cana-de-açúcar, coco da Bahia, batata doce, melancia, abobora, etc. – além da grande produção de frutos nativos - pequi, buriti, caju, cagaita, grão de galo, araticum, coco catolé, coco gueroba, pulsar, croadinha e outros – mais a produção de rapadura, melaço, doce em caldo e de corte, queijo, requeijão, cachaça destilada.