Barranqueiros, sua vida é o “Velho Chico”
Um rio. Uma vida, um modo de vida
“O rio é o caminho e o espaço de vida para as comunidades que dele vivem e que fazem de suas águas estrada, moradia e fonte de subsistência. O São Francisco é a moldura de seus retratos. É a base para o contexto social, cultural, econômico, religioso, mítico e vivencial do norte de Minas” (IEPHA-MG 2015).
Os homens e as mulheres da margem do São Francisco ou Opará, na linguagem tupi-guarani, um dos principais cursos d’água do Brasil e da América Latina, definem o tempo de suas vidas de acordo com o tempo do rio, entre o tempo das águas (outubro a março) e o tempo da seca, que orientam suas atividades de pesca e de roça e estabelecem laços de pertencimento e de dependência com o ambiente.
Uma das comunidades que residem nas margens do rio São Francisco são os barranqueiros que vivem em áreas de preservação permanente, especialmente durante o período de estiagem, em sua maioria nas ilhas, vazantes, em comunidades ou em também nas cidades próximas ao rio como Pirapora, Buritizeiro, Januária, São Francisco, Várzea da Palma, Guaicuí e Itacarambi em Minas Gerais. As barracas improvisadas, montadas no barranco do rio, antes de ter “sua propriedade”, é o seu lugar no rio.
Os barranqueiros se auto-designam de acordo com a apropriação das terras e das águas do rio; eles sabem respeitar os ciclos, se adaptam e utilizam seus recursos de acordo com as regras do rio. Seus laços identitários mantém viva as heranças culturais, os vínculos com o lugar de vida e trabalho. Organizam suas vidas nas barrancas do “Velho Chico”, onde acontece suas relações simbólicas e afetivas ligadas ao rio. Praticam a agricultura, considerando as enchentes do rio que deixam por onde passam a fertilidade para a terra porque à medida que as águas baixam, as margens e ilhas ficam cobertas de sedimentos onde os barranqueiros praticam a agricultura conhecida como “lavoura de lameiro”.
Ameaças
Destruição progressiva da vegetação nativa nas encostas; contínuo e intenso lançamento de resíduos industriais, sanitários e de agrotóxicos aplicados em larga escala pelas monoculturas no leito do rio São Francisco e de seus afluentes, comprometendo a reprodução dos peixes (piracema) devido às barragens, além do impacto de longos períodos de estiagem que se sucedem pelas mudanças climáticas.